De profundis
Georg Trakl
Há um restolhal, em que cai chuva negra.
Há uma árvore castanha, que ali se ergue solitária.
Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias –
Que triste este anoitecer.
Passando pela aldeola
A órfã suave colhe ainda espigas escassas.
Seus olhos pascem redondos e áureos no crepúsculo
E o seu ceio espera o noivo celestial.
Ao regressar a casa
Acharam os pastores o doce corpo
Apodrecido no espinheiro.
Sou uma sombra longe de aldeias escuras.
A mudez de Deus
Bebi-a eu no poço do bosque.
Na minha testa calca metal frio.
Aranhas buscam o meu coração.
Há uma luz, que se apaga na minha boca.
De noite encontrei-me numa charneca,
Repleta de imundície e de pó das estrelas.
Na avelaneira
Soavam de novo anjos de cristal.
Fonte: Quintela, P. 1998. Obras completas, vol. 3. Lisboa, Calouste Gulbenkian. Poema publicado em livro em 1913.
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