Dois em química
Joe Schwarcz
Havia dois jovens no elevador da estação de rádio quando entrei, depois de terminar uma gravação ao vivo. “Você é alguém?”, deixou escapar um deles. Enquanto eu ponderava uma resposta apropriada para essa questão profundamente filosófica, seu amigo disparou: “Sim, ele é o cara que fala de química no rádio.” Essa era a munição de que o filósofo precisava. “Ó, não, estamos presos no elevador com um cientista”, brincou, antes de oferecer voluntariamente a informação de que na escola havia tirado dois em química, e “mesmo assim colando”.
Eu já ouvira isso antes. Depois de dar muitas conferências, tenho sido abordado por pessoas que, de alguma maneira, sentem necessidade de desafogar suas mágoas e dizer-me, com alguma espécie de orgulho perverso, que dormiram durante as aulas de ciências do ensino médio, ou que química fora o único curso em que fracassaram. Tais comentários são emocionalmente dolorosos para qualquer um que ensine ciências. Mas, pior que isso, eles deixam implícito que o ensino de ciências pobre e sem imaginação pode ser parcialmente responsável pelo aterrorizante grau de ignorância científica que permeia nossa sociedade.
O analfabetismo científico não é assunto para brincadeiras. Certamente nos divertimos com respostas bobas de provas, sugerindo que Benjamin Franklin produziu eletricidade esfregando dois gatos um contra o outro, ou que podemos identificar o monóxido de carbono porque ele tem um ‘cheiro inodoro’. Mas a falta de familiaridade com os princípios científicos básicos pode causar medos infundados e abrir a porta para charlatães.
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Fonte: Schwarcz, J. 2009 [1999]. Barbies, bambolês e bolas de bilhar. RJ, Jorge Zahar.
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