Dissonância cognitiva
Leon Festinger
[...] Se você parte da noção de que uma pessoa tem duas crenças ou dois itens cognitivos que não se adaptam, começará a haver um processo que tenta mudar um ou outro para que se adaptem melhor. É fácil fazer a pergunta, o que acontece se as duas peças de informação que estão em relação dissonante uma com a outra forem muito resistentes à mudança? Ocorreu-nos naquela época que alguns exemplos fascinantes deste tipo de fato podem ser encontrados em movimentos históricos onde grupos de pessoas estavam predizendo o fim do mundo e a segunda vida de Cristo. Se você realmente acredita que a segunda vinda está próxima e que o mundo, como ele existe hoje, está se aproximando do fim, você não vai enfrentar a sua vida de uma maneira normal. Os bens materiais não significam nada, os negócios não são mais importantes, você apenas se prepara para a segunda vinda. Começamos olhando para estes movimentos históricos. Muitos deles prediziam um dia específico para o fim, e quando o fato não ocorre estas pessoas ficam com uma dissonância muito grande entre o seu sistema de fé e o seu comportamento de um lado, e o fato de a predição não ser verdadeira de outro. Elas têm uma evidência indiscutível de que o seu sistema de fé estava errado. Todavia, é muito difícil para elas mudar seu sistema de fé porque estão comprometidas com ele por todo o seu comportamento, o que não pode ser anulado. Um modo de reduzir a dissonância seria sair e persuadir mais pessoas de que o sistema de fé está correto – talvez apenas esta pequena predição estivesse um tanto errada – mas o sistema de fé geral é correto. Assim, estas não-confirmações do sistema de fé poderiam conduzir a esforços maiores de proselitismo. E em todos os movimentos históricos que encontramos parece que foi isso que aconteceu. Depois, achamos por acaso este pequeno artigo de jornal a respeito de um grupo que estava predizendo uma data e uma hora específica para o fim do mundo – não um grupo milenar no sentido tradicional, mas eles estavam predizendo que o mundo seria destruído por uma enchente numa data específica. Na esperança de que isso não iria ocorrer, achamos que poderíamos ter pela frente um estudo vivo e ver se havia um aumento do proselitismo depois da não-confirmação. Foi por isso que fizemos o estudo, e de fato foi isto que aconteceu.
Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.
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