10 abril 2011

Uma fórmula para a química

Paul Strathern

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A suprema importância da teoria atômica de Dalton foi rapidamente reconhecida em todo o mundo científico. Exceto por uma série de conferências públicas ministradas em seu costumeiro estilo desenxabido, Dalton continuou a viver uma simples vida quacre em Manchester, esquivando-se a honras públicas. Mas estas foram despejadas sobre ele, quer as quisesse ou não. Foi eleito para a Royal Society secretamente, contra seus desejos expressos. A filiação a instituições como essa era contrária à sua religião. As notificações que o correio trazia de sua eleição para academias prestigiosas de toda a Europa ficavam sem resposta.

Mundialmente famoso apesar de todas as suas tentativas de evitar esse infortúnio, Dalton finalmente morreu em 1844, aos 67 anos. Seu desejo de um funeral quacre simples atraiu mais de 4.000 pranteadores e uma centena de carruagens. A Grã-Bretanha ingressara na era vitoriana: a respeitabilidade, a reverência por celebridades e cerimônias pias (especialmente funerais) eram elementos centrais do etos da classe média ascendente. Além disso, durante a Revolução Industrial, Manchester deixara de ser uma cidadezinha mercantil para se tornar a segunda maior cidade da Grã-Bretanha: o centro de sua indústria manufatureira, com uma população de mais de um terço de um milhão. (Londres, na sua época a maior cidade do mundo, tinha uma população de cerca de dois milhões. Contudo, Manchester era a principal cidade em mais um sentido: foi o primeiro lugar da Terra a crescer aceleradamente, transformando-se numa enorme área urbana caoticamente espalhada, em conseqüência do rápido crescimento industrial – um fenômeno que iria se disseminar por todo o globo durante o século seguinte.)

O funeral de Dalton foi uma celebração de orgulho cívico, e também da ciência que havia tornado isso possível. Também a ciência se tornara respeitável, até meritória. Um dos desejos de Dalton, contudo, foi respeitado. Seus olhos foram preservados na esperança de que um dia seria descoberta a causa de sua cegueira para cores. Passados 150 anos da sua morte, amostras de DNA mostraram que ele não possuía os genes que produzem o pigmento sensível ao verde em olhos normais.
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Fonte: Strathern, P. 2002. O sonho de Mendeleiev. RJ, Jorge Zahar.

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