15 maio 2011

Reencontro

Luís Filipe de Castro Mendes

E foi teu corpo ou tu quem encontrei?
Que lembrámos, sem ver, entre sorrisos?
A memória dos versos que te dei,
o feixe de outros lumes mais antigos?

Não foi meu corpo que nos versos dei
nem os gestos de amor que me sobraram:
porque era só do tempo a nossa lei
e há rugas nas carícias que ficaram.

Não te encontrei a ti nem à lembrança:
mas o que se fez corpo neste encontro
foi desejo ou memória? Como dança
que se larga e concentra num só ponto

diz-me o teu corpo que nenhum desejo
deixou de arder no lume em que te vejo.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1998.

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