Canção de Kaspar Hauser
Georg Trakl
Ele em verdade amava o Sol que purpúreo descia a colina,
Os caminhos do bosque, o melro que cantava
E a alegria do prado.
Sério era o seu morar à sombra da árvore
E pura a sua face.
Deus disse-lhe ao coração uma chama suave:
Ó homem!
Silencioso o seu passo achou a cidade ao anoitecer;
A queixa escura da sua boca:
Hei-de ser cavaleiro.
Seguiram-no porém moita e bicho,
Casa e jardim crepuscular de homens brancos
E o seu assassino buscava-o.
Primavera e Verão e belo o Outono
Do justo, o seu passo baixo
Ao longo de quartos escuros e sonhadores.
À noite ficava sozinho coa sua estrela;
Viu que caía neve em ramaria calva
E no pátio a escurecer a sombra do assassino.
Argêntea tombou a cabeça do não-nascido.
Fonte: Quintela, P. 1998. Obras completas, vol. 3. Lisboa, Calouste Gulbenkian. Poema publicado em livro em 1915, com a dedicatória “Para Bessie Loos”. Na grafia portuguesa, o poema recebeu o título “Canção de Gaspar Hauser”.
1 Comentários:
Excitante.
Esta casa é deveras significante.
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