Dissertação sobre as leis dos pobres
Joseph Townsend
Para um homem de sensibilidade comum nada há mais aflitivo que ouvir queixas de miséria, que ele não tem o poder de evitar, ou ter contato diário com infortúnios de que não pode fugir e não pode aliviar. É essa a situação atual do clero que, em virtude de seu ofício, é obrigado a visitar as habitações dos pobres. (...)
Tais leis (dos pobres), tão belas em teoria, promovem os males que querem remediar e agravam a aflição que deveriam aliviar. (...)
A esperança e o medo são as molas da operosidade. O papel de um bom político é fortalecê-las; mas nossas leis enfraquecem uma e destroem o outro. Qual será o encorajamento do pobre para ser operoso e frugal, quando sabe, com certeza, que se aumentar suas reservas elas serão consumidas pelos parasitas? E por que deveriam temer, quando lhes afirmam que, se fossem reduzidos à penúria pela indolência e pela extravagância, pela bebida e pelos vícios, seriam abundantemente providos não só com alimentos e roupas como, também, com luxos costumeiros, a expensas de outrem? Os pobres pouco sabem dos motivos – orgulho, honra e ambição – que estimulam as classes mais elevadas à ação. Somente a fome, em geral, os incita ao trabalho; nossas leis, no entanto, disseram que jamais passarão fome. É preciso dizer que as leis também disseram que eles serão compelidos a trabalhar. Mas a imposição da lei acarreta tanto distúrbio, tanta violência e tanto barulho, promove má vontade e nunca produz serviço bom e aceitável, ao passo que a fome não só exerce pressão passiva e silenciosa como, também, sendo o motivo natural que leva à operosidade e ao trabalho, produz os mais poderosos esforços; e quando satisfeita pela mão caridosa de outrem, constrói alicerces duradouros e seguros para a boa vontade e a gratidão. (...)
Aquele que regularmente emprega o pobre em trabalho útil é seu único amigo; aquele que somente o alimenta é o pior inimigo. Suas esperanças e seus receios deveriam centralizar-se em si mesmos. (...)
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Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Companhia Editora Nacional & Edusp. Texto originalmente publicado em 1786.
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