Soneto à berinjela
Jorge Tufic
Vi-te semente, vi-te escurecida
pela terra ociosa antes do inverno;
nas mãos de minha mãe vi-te ferida
para o recheio branco o arroz eterno.
De vinho tinto sempre travestida
roubando à sombra o seu luzir interno,
vejo-te ainda pendurando a vida
dos quintais numa folha de caderno.
És a pasta do luar, o aroma assado,
e ao gergelim e ao alho esse passado
me traz de volta os pêssegos e o mosto.
Vegetativa musa sobre a mesa
sacias com este pão, dás a certeza
de que tens cheiro lágrimas e rosto.
Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 2005.
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