A pílula
Penny Le Couteur & Jay Burreson
Em meados do século 20 os
antibióticos e antissépticos eram de uso corrente e haviam reduzido de maneira
impressionante as taxas de mortalidade, em particular entre mulheres e
crianças. As famílias não mais precisavam ter um número enorme de filhos para
ter certeza de que alguns iriam chegar à idade adulta. Enquanto o espectro da
perda de filhos para doenças infecciosas diminuía, crescia a demanda por
medidas que limitassem o tamanho da família por meio da contracepção. Em 1960
surgiu uma molécula anticoncepcional que desempenhou papel fundamental no
perfil da sociedade contemporânea.
Estamos nos referindo, é
claro, à noretindrona, o primeiro anticoncepcional oral, mais conhecido como ‘a
pílula’. Atribui-se a essa molécula o mérito – ou a culpa, segundo o ponto de
vista adotado – pela revolução sexual da década de 1960, o movimento de
liberação das mulheres, a ascensão do feminismo, o aumento da porcentagem de
mulheres que trabalham e até a desagregação da família. Apesar da divergência
das opiniões acerca de seus benefícios ou malefícios, essa molécula desempenhou
importante papel nas enormes modificações por que passou a sociedade nos 40
anos, aproximadamente, transcorridos desde que a pílula foi criada.
Lutas pelo acesso legal à
informação sobre o controle da natalidade e aos anticoncepcionais, travadas na
primeira metade do século 20 por reformadores notáveis como Margaret Sanger,
nos Estados Unidos, e Marie Stopes, na Grã-Bretanha, agora nos parecem
distantes. Os jovens de hoje muitas vezes não acreditam ao ouvir que, nas
primeiras décadas do século 20, simplesmente dar informação sobre controle de
natalidade era crime. Mas a necessidade estava claramente presente: as elevadas
taxas de mortalidade materno-infantil registradas nas áreas pobres das cidades
frequentemente estavam em correlação com famílias numerosas. As famílias de
classe média já usavam os métodos anticoncepcionais disponíveis na época, e as
mulheres da classe operária ansiavam pelo acesso ao mesmo tipo de informação e
de recursos. [...]
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