Ó noites infernais da minha vida!
Ó noites infernais da
minha vida!
– Desespero e descrença
os céus e a terra!
Lá não ouço uma voz que
diga – esp’rança;
Não vejo aqui sorrir que
diga – amor!
Uma lua cansada sempre e
morta
Dormindo pelos cumes das
montanhas;
Uma hipérbole bruta, uns
pirilampos
Na abóbada celeste
pendurados –
Áridos mudos campos
misteriosos,
Não vejo a aurora mais do
que um semblante
D’escarnio à humanidade,
e o feio ocaso
Que os olhos a fechar só
lembra a morte!
A terra faz-se em homens
– vivos sonhos
Do cérebro dormente:
algumas horas
O espectro zumbe; e
vai-se desfazendo,
Sonho qual é, que não
viveu – sonhava.
Passou-se tudo! os sonhos
mais felizes
Todos me abandonaram! Os
céus abertos,
Ouvi – eu te amo! – Foi
mentira. O inferno
Hoje m’envolve, me
envolvendo o amor!
De esperança em esperança
corre a vida –
Existir é esperar: porque
eu morri
Desde que as velas d’alma
erguendo a acaso
O meu canto entoei desta
desgraça!
Mar sem praias! – seus
ventos me diziam:
Não vês lá no horizonte
os verdes cumes
Juntos ao céu? – Andei!
fagueiro e ledo:
E tão cansado, e sem
chegar mais nunca,
Vi caindo a verdade! Eis
porque eu morro:
Vive quem dorme e sonha.
À dor me uivando
Eu quis aniquilar minha
existência,
Que era fantasma o ser,
mentira a vida!
E os ecos delirantes
retumbaram
Nest’alma às próprias
chamas consumida,
Em vão!... Quero viver –
vem, vem, ó noite,
Banhar-me do teu sono! Eu
durmo, eu vivo.
Demônio da alma,
ceticismo horrendo,
Filosofia cega, oh,
vai-te! vaite!
Das opressoras escarnadas
garras
Solta-me – aos vabes da
obscura crença –
Esquece-te de mim;
fechem-se as asas
Sinistras de sombrio
noitibó!
Eu quero amar a Deus e
amar os homens:
Vai-te, deixa-me em paz –
feliz eu sou!
Consumiste minha alma
enegrecida;
Tu disseste, que um Deus
não me acompanha;
Que é vã fumaça esta
alma, que o meu corpo
Em cinzas perderá,
passando o vento.
Negaste-me um repouso na
amizade;
E nem pude mais crer no
amor da virgem:
E murcho e frio me
recolho às sombras
Da minha vida a me
abraçar co’a morte.
Olhei... os dias meus do
sol caindo;
Escutei... os meus lábios
estalando
Em maldições ao ser desta
existência,
E ao Ser que sobre o sol
conta os meus dias!
E eu, que me assentava ao
pé da serra,
Vendo as estrelas como
ninfas d’oiro
Subindo lá do fundo da
corrente,
Começando-se a noite a
encher de sombras;
Esperando que a lua
atravessasse
No vale, por saudá-la dos
dois nomes
“De Ana e de minha mãe” –
achei só túmulos:
Pálido o amor, pálida a
amizade!
Achei a minha vida ser
tão longa
Como o passar da
eternidade! Em tanto
Dormia as horas... e nas
dores de hoje
Meus dias de depois eu
descontei.
Fonte (versos 53-56): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP,
Leya. Poema publicado em livro em 1857.
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