Olhos verdes
Eles verdes são:
E têm por usança,
Na cor esperança,
E nas obras não.
Cam. Rim.
São uns olhos verdes,
verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei
sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e
mais forte,
Diz uma – vida, outra –
morte;
Uma – loucura, outra –
amor.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei
sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do
prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se
inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei
sendo
Depois que os vi!
São uns olhos verdes,
verdes,
Que podem também brilhar;
Não são de um verde
embaçado,
Mas verdes da cor do
prado,
Mas verdes da cor do mar.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei
sendo
Depois que os vi!
Como se lê n’um espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em
calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei
sendo
Depois que os vi!
Dizei vós, oh meus
amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo só da
lembrança
De uns olhos cor de
esperança,
De uns olhos verdes que
vi!
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei
sendo
Depois que os vi!
Dizei vós: Triste do
bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes,
verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem espr’ança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mim!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!
Fonte: Dias, G. 2003. I-Juca-Pirama. Os Timbiras. Outros poemas.
SP, Martin Claret. Poema publicado em livro em 1851.
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