15 novembro 2015

Olhos verdes


Eles verdes são:
E têm por usança,
Na cor esperança,
E nas obras não.
Cam. Rim.

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
            Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
            Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma – vida, outra – morte;
Uma – loucura, outra – amor.
            Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
            Depois que os vi!

São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
            Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
            Depois que os vi!

São uns olhos verdes, verdes,
Que podem também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.
            Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
            Depois que os vi!

Como se lê n’um espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
            Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
            Depois que os vi!

Dizei vós, oh meus amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
            Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
            Depois que os vi!

Dizei vós: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem espr’ança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
            Que ai de mim!
Não pertenço mais à vida
            Depois que os vi!

Fonte: Dias, G. 2003. I-Juca-Pirama. Os Timbiras. Outros poemas. SP, Martin Claret. Poema publicado em livro em 1851.

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