A medusa e a lesma
Lewis Thomas
Jamais como hoje no embaraçamos
tanto conosco mesmos. As revistas populares vivem repletas de conselhos acerca do
que se deve fazer com o próprio eu: de que forma procurá-lo, identificá-lo,
cultivá-lo, protegê-lo e até mesmo, em ocasiões especiais como os fins de
semana, ‘perdê-lo’ provisoriamente. Há livros instrutivos, best-sellers acerca da autorrealização, da autoajuda, do
autodesenvolvimento. Grupos de pessoas respeitáveis despendem grandes quantias
por três dias de sessões conjuntas de autopercepção. O autoesclarecimento é
matéria opcional nas universidades.
Quem lê a respeito julga
que acabamos de nos descobrir. Desconfiando há muito de que existe algo de vivo nessa questão, que tudo
orienta e que está à parte de tudo mais, algo absolutamente individual e
independente, nós o festejamos dando-lhe um nome real: Eu [Self].
Trata-se de uma palavra
interessante, formada há muito tempo, em período de maior ambiguidade social do
que seria de se esperar. A raiz original era se, ou seu, pronome da
terceira pessoa, simplesmente, e a maioria dos vocábulos que dele descendem, à
exceção do próprio self, foi
constituída para aludir a outras pessoas de certo modo interligadas. Se era também usado para indicar algo
exterior ou à parte, resultando em palavras como ‘separado’, ‘secreto’ e ‘segregado’. De uma extensão da raiz, swedh, passou ao grego como ethnos, significando ‘gente como nós’, e
ethos, ‘os costumes dessa gente’. ‘Ética’
significa comportamento de pessoas parecidas conosco, a nossa própria ética.
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