Atal vej’eu aqui ama chamada
João Soares Coelho
Atal vej’eu aqui ama
chamada
que, dê-lo dia em que eu
naci,
nunca tam desguisada
cousa vi,
se por ũa d’estas duas
nom é:
por aver nom’assi, per bõa fé,
ou se lho dizem porque é
amada
(ou por fremosa, ou por
bem talhada).
Se por aquest’ama dev’a
seer,
é o ela, podede-o creer,
ou se o é pola eu muit’amar;
ca bem lhe quer’e posso
bem jurar:
poi-la eu vi, nunca vi
tam amada!
E nunca vi cousa tam
desguisada:
de chamar home ama tal
molher,
tam pastorinha, se lho
nom disser’
por tod’esto que eu sei
que lh’avem:
porque a vej’a todos
querer bem,
ou porque do mund’é a
mais amada!
É o de [modo] como vus
disser’
que, pero me Deus bem
fazer quiser’,
sem ela nom me pode fazer
nada.
Fonte: Vasconcelos, C. M.
2004 [1904]. Glosas marginais ao cancioneiro medieval português de Carolina Michaëlis de Vasconcelos.
Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis. Cantiga de amor datada de meados do
século 13.
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