Escravocratas
Cruz e Sousa
Oh! trânsfugas do bem que
sob o manto régio
Manhosos, agachados – bem
como um crocodilo,
Viveis sensualmente à luz dum privilégio
Na pose bestial dum cágado tranquilo.
Eu rio-me de vós e
cravo-vos as setas
Ardentes do olhar – formando
uma vergasta
Dos raios mil do sol, das
iras dos poetas,
E vibro-vos a espinha – enquanto
o grande basta
O basta gigantesco,
imenso, extraordinário –
Da branca consciência – o
rútilo sacrário
No tímpano do ouvido – audaz
me não soar.
Eu quero em rude verso
altivo adamastórico,
Vermelho, colossal, d’estrépito,
gongórico,
Castrar-vos como um touro
– ouvindo-vos urrar!
Fonte: Souza, C. 2001. Os melhores poemas de Cruz e Souza, 2ª
edição. SP, Global. Poema publicado em livro em 1961.
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