Os primeiros colonizadores
André Prous
As principais pesquisas sobre os antigos caçadores-coletores de Minas
Gerais concentraram-se principalmente nos abrigos calcários, os quais preservam
maior variedade de vestígios do que os sítios a céu aberto. [...]
Embora tenha sido encontrado um instrumento de pedra datado de 20 mil a 15
mil anos na Lapa Vermelha (perto do aeroporto de Belo Horizonte, em Confins),
este achado isolado, como todos os outros indícios datados de mais de 12 mil
anos no Brasil, é de difícil interpretação. [...]
A vida dos ‘homens de Lagoa Santa’ é bem documentada entre 10 mil e 8 mil
anos atrás, graças às escavações realizadas em Cerca Grande, em 1956, e em Santana
do Riacho, na década de 70. [...]
Os restos alimentares encontrados durante as escavações sugerem caça
limitada, não havendo vestígios de porcos-do-mato; os cervídeos são pouco
representados assim como os peixes; encontramos sobretudo tatus e roedores
(sendo por vezes difícil saber quais foram caçados e quais moravam no local); a
alimentação vegetal parece ter sido abundante, e, por causa disto, os homens de
Lagoa Santa apresentavam uma frequência de cárie raramente observada em
populações de caçadores e excepcional para um período tão remoto. Verificou-se
também a frequência de paradas de crescimento entre os jovens (diagnosticadas
através da radiografia de ossos longos), talvez devido a problemas alimentares
sazonais; algumas fraturas e problemas de saúde foram diagnosticados, como
lesões inflamatórias com periostites e osteomielites graves.
A mortalidade das crianças até quatro anos de idade era grande e a
esperança de vida, bastante reduzida; de modo geral, a saúde da população
parece ter sido delicada, talvez em razão do isolamento genético em que se
encontrava, manifesto pela grande homogeneidade das características
epigenéticas. [...]
Fonte: Prous, A. 1999. As primeiras populações do estado de Minas Gerais.
In:
M. C. Tenório, org. Pré-história da Terra Brasilis. RJ, Editora UFRJ.
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