A identidade negra na literatura
Shirley Ferreira
Luiz Gonzaga Pinto da
Gama nasceu em Salvador (BA), em 21/6/1830. Era filho de uma negra africana e
de um fidalgo português, cujo nome ele fazia questão de omitir. Sua mãe,
segundo o seu próprio relato, seria a militante política Luiza Mahin, mulher de
origem nagô, livre e pagã. Quando tinha 10 anos de idade, seu pai o vendeu como
escravo para saldar uma dívida. Foi levado para o Rio de Janeiro (RJ);
revendido, foi depois para São Paulo (SP), onde viveria de 1840 a 1882.
Aprendeu a ler tardiamente, mas logo se tornou um leitor assíduo e voraz.
Frequentou a Faculdade de Direito (atual Faculdade de Direito do Largo do São
Francisco), embora não tenha concluído o curso formalmente. Segundo o seu
próprio testemunho, sua atuação nos tribunais resultou na libertação de mais de
500 escravos. Admirador da obra do filósofo francês Ernest Renan (1823-1892),
conviveu com vários outros personagens das letras e da política brasileira,
incluindo José Bonifácio, o Moço (1827-1886); Castro Alves (1847-1871); Joaquim
Nabuco (1849-1910) e Rui Barbosa (1849-1923), com este último fundou uma loja
maçônica. Quando faleceu, em 1882, era considerado um dos mais notáveis
intelectuais brasileiros. Sua vida e obra tiveram uma forte influência na
formação das novas gerações, incluindo autores como Raimundo Correia
(1859-1911) e Raul Pompéia (1863-1895). [...]
Autodidata, Luiz Gama fez da literatura um veículo em defesa dos seus ideais republicanos e abolicionistas. Combinou o trabalho como jornalista e poeta com a militância política. O estilo audacioso, no entanto, teve um preço, na medida em que serviu de pretexto para que ele fosse demitido, “a bem do serviço público”. Não abriu mão de seu posicionamento político e de seus ideais, ao “promover processos em favor de pessoas livres criminalmente escravizadas”; em tais circunstâncias, visava “auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores, principalmente os Reis” (GAMA 1880, p. 3).
Trabalhou em vários
jornais paulistanos, tendo sido redator-chefe do Diabo Coxo, fundado por ele em 1859 [...].
No mesmo ano em que
aparecia o jornal Diabo Coxo, o poeta publicou a primeira edição do seu único
livro, Primeiras trovas burlescas de Getulino. Em 1861, dado o sucesso da obra, publicou uma segunda edição,
revista e ampliada. O livro se caracteriza pelo tom satírico e um peculiar
senso de humor. Seus versos criticam os costumes da época. Ironiza os fidalgos
que nasceram no país, mas só se viam como brancos europeus. Além disso, aponta
algumas mazelas da sociedade brasileira e discorre sobre o orgulho de ser
negro. Posteriormente, ele se dedicaria tão somente à imprensa, de onde saiu
apenas para seguir carreira nos partidos Republicano, Abolicionista e Liberal. [...]
Fonte: Ferreira, S. 2017.
Luiz Gama e a identidade negra na
literatura. Juiz de Fora, Edição do autor.
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