ABL não merece Conceição Evaristo
Soube, ontem (20/6), por meio de matéria do Jornal GGN (ver aqui), que a escritora e professora universitária Maria da Conceição Evaristo de Brito (nascida em 1946) teria oficializado sua candidatura a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Para mim foi uma surpresa, embora eu ainda não tenha conseguido enxergar o lado bom da notícia.
Evaristo seria candidata à cadeira no. 7, vaga desde o falecimento do cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928-2018). O primeiro ponto a se destacar aqui é este: diferentemente de Santos, Conceição Evaristo é uma escritora de verdade. Mas é igualmente importante dizer o seguinte: Santos não era nenhum gaiato oportunista, daqueles que prosperam pelos palácios e salões reluzentes da Colônia. (Lugares assim, sobretudo em países culturamente atrasados, atraem todo tipo de espertalhão – incluindo políticos influentes e semianalfabetos endinheirados. Em entrevista recente, por exemplo, o sr. Paulo Coelho não se furtou a dizer que, para ele, a eleição para a ABL era apenas uma conquista a mais [ver aqui]. Depois de eleito, o dublê de guru e escritor tratou de sumir. E mais: passou a se vingar de antigos desafetos, gente que outrora o criticava e que agora vinha até a sua porta, atrás de apoio e voto...)
O problema é que para manter de pé uma instituição ‘literária’, a cota de bufões precisa ser contrabalançada pela presença de um punhado de escritores de verdade, ainda que em quantidade mínima. Em meio a um elenco recheado de espertalhões, não há como negar que a ABL abriga alguns poetas e romancistas de respeito. A presença de Evaristo, no entanto, seria um trunfo e tanto (literário e político). A rigor, não seria exagero dizer que a intituição ganharia um lastro que ainda não tem (ou nunca teve). No lugar da escritora, eu não me candidataria – a ABL simplesmente não merece Conceição Evaristo.
Seja como for, espero que ela continue brindando a todos nós, leitores, com versos e beleza.
Nota
Sobre a obra da autora, ver, por exemplo, artigos em Umtigre na floresta de signos (Maza, 2010), organizado por Edimilson de Almeida Pereira.
1 Comentários:
Muito bom o seu texto. Eu também penso assim. Mas um pouco de polêmica sobre o assunto sempre é bom. Parabéns. CE continua grande. Já a ABL continua machista.Abraço
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