24 janeiro 2019

As vidas de Christopher Chant

Diana Wynne Jones

Passaram-se anos até Christopher contar seus sonhos a alguém. Isso aconteceu porque ele vivia a maior parte do tempo nos aposentos infantis, no andar superior da grande mansão londrina, e as babás que tomavam conta dele mudavam a cada poucos meses.

Christopher mal via os pais. Quando era pequeno, tinha pavor de que um dia, passeando no parque, encontrasse Papai e não o reconhecesse. Na esperança de guardar na mente o rosto de Papai, ele costumava ajoelhar-se e espiar por entre as grades do corrimão, nas raras ocasiões em que Papai chegava do centro da cidade antes da hora de Christopher ir dormir. Mas o máximo que conseguia era a vista aérea de uma figura de fraque, com enormes costeletas negras bem penteadas, entregando uma cartola preta ao criado, e em seguida o vislumbre de um repartido perfeito na cabeleira negra, quando Papai avançava e rapidamente desaparecia de vista. Christopher pouco mais sabia de Papai além do fato de que ele era mais alto do que a maioria dos criados.
[...]

Fonte: Jones, D. W. 2002 [1988]. As vidas de Christopher Chant. SP, Geração Editorial.

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