04 novembro 2019

Transposto em carne


da solidão do abraço é que há os olhos
entreabertos húmidos vigilantes
contemplando o musgo (os teus cabelos
de liso toque e meu sinal de alarme)

da solidão do abraço é que há o vinho
a erupção do caos em teu redor
e labaredas altas despenhadas
no ter corpo de sumo e minha órbita

da solidão do abraço é que há um peixe
a navegar por mim com escamas lentas
é um aquário   o sol à transparência
no coração selvagem   mão terrível

da solidão do abraço é que há a paz
sinal de flor aqui transposta em fogo
é guerra desejada é arma viva
de um deus alvoroçado humano e louco

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1972.

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