04 dezembro 2019

Evidências de um fato


Como os cientistas sabem que as espécies viventes são versões modificadas de espécies já desaparecidas? Afinal, como eles conseguem provar que a evolução é um fato?

Para início de conversa, não custa lembrar: ao contrário da matemática, a biologia não lida com demonstrações ou provas definitivas. As conclusões da biologia [1] estão ancoradas em evidências (diretas ou indiretas). E estas, sempre que possível, devem provir de experimentos controlados, como é regra nas ciências naturais. No caso da biologia, os experimentos são conduzidos em laboratório ou no campo. Resultados obtidos no laboratório às vezes são suficientes, mas nem sempre. Veja o que ocorre em áreas como paleontologiaecologia e genética de populações, três dos pilares da biologia evolutiva e onde o trabalho de campo é insubstituível.

O xis da questão aqui é o seguinte: o rol de evidências positivas a respeito do fato da evolução é tão esmagador que a única alternativa racional que nos resta é tratá-la como tal.

Fósseis e fossilização

Evidências diretas de como eram os seres vivos do passado e de como a história da vida se desenrolou provêm do estudo dos fósseis – restos ou vestígios, em geral petrificados, deixados por organismos que já desapareceram.

É bom notar que fóssil não é sinônimo de pedra, visto que nem todo resto fóssil está petrificado. Vejamos.

Há dois tipos de fósseis petrificados: (1) os que de fato foram transformados em pedra (e.g., a estrutura original desapareceu e a cavidade resultante foi preenchida por depósitos minerais); e (2) os que ainda preservam remanescentes do material original (e.g., uma das conchas de uma ostra persiste, no todo ou em parte, e apenas a cavidade foi preenchida).

O processo por meio do qual um cadáver se converte em fóssil petrificado (total ou parcialmente) pode envolver substituiçãodestilação ou recristalização. No primeiro caso, o material original é substituído por algum depósito mineral; no segundo, dito também carbonização, os elementos voláteis da matéria orgânica (H, O, N) escapam, deixando uma película de carbono; no último, ocorre a destruição das partes cristalinas originais, as quais são então substituídas por algum mineral mais estável.

Outras evidências

Além dos indícios deixados pelos seres vivos do passado (e.g., fósseis, moldes, pegadas e perfurações), um sem-número de evidências indiretas é usado em reconstituições históricas. E várias disciplinas contribuem e participam dessas reconstituições.

embriologia, por exemplo, nos diz que as rotas de desenvolvimento, mesmo no caso de organismos que pouco ou nada se parecem aos nossos olhos (e.g., cangurus, morcegos e elefantes), podem seguir o mesmíssimo padrão geral; as particularidades que notamos nos animais adultos resultam de diferenças sutis durante o desenvolvimento. Por sua vez, a genética nos informa que as rotas de desenvolvimento se assemelham porque os organismos possuem genomas igualmente semelhantes, diferindo tão somente aqui e ali – seja porque cada animal abriga alguns poucos genes exclusivos, seja porque os mesmos genes estão a se expressar de modos ou em momentos algo diferentes.

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Notas

[*] Artigo extraído e adaptado do livro O que é darwinismo (2019). (A versão impressa contém ilustrações e referências bibliográficas.) Para detalhes e informações adicionais sobre o livro, inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato com o autor pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] A mais ampla e heterogênea das ciências, abrigando relatos de história natural, ensaios experimentais e, mais recentemente, investigações moleculares, tudo isso tendo a teoria evolutiva como fio condutor.

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