Comeu-se, então, até desaparecer
Ricardo Arnt
Foi o poeta latino Ovídio quem nos legou, em As metamorfoses, a fábula de Erisícton, o algoz das florestas. Conta como o ímpio e ambicioso grego violou os bosques consagrados a Ceres com o ferro do machado e que a deusa, como castigo, mandou a Fome voar até o seu leito e soprar-lhe a garganta. Tão logo acordou, Erisícton foi dominado por uma fome atroz. Comia e comia, sem parar, o que bastaria para uma cidade, e nada o saciava. Exigiu todos os produtos do mar, da terra e do ar; vendeu tudo o que tinha para comprar alimentos, até consumir todos os seus bens, mas a fome continuou a devorar-lhe o saco sem fundo do ventre. Restou-lhe apenas a filha, fiel e condoída, e ele afinal a vendeu. Por fim, pôs-se a arrancar os próprios membros e a dilacerá-los com os dentes. Comeu-se, então, até desaparecer.
Fonte: Anderson, A. & mais 10. 1994. O destino da floresta. RJ, Relume Dumará.
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