17 dezembro 2020

Nós, os mamíferos. III. Caracterização e classificação

Felipe A. P. L. Costa [*]

1. O que é um mamífero?

Somos mamíferos e, de um jeito ou outro, todos nós temos uma noção mais ou menos intuitiva a respeito do que isto significa.

Em termos mais rigorosos, porém, os mamíferos podem ser caracterizados pela presença dos seguintes traços fenotípicos:

(1) Corpo coberto com pelos; pele com muitas glândulas;

(2) Dois pares de extremidades, o posterior às vezes ausente; cada extremidade dotada de até cinco artelhos, cada um deles terminando em garra, casco córneo ou unha;

(3) Olhos com pálpebras móveis; orelhas carnudas; boca com dentes alveolares; arcada dentária variável, com dentes especializados em diferentes funções;

(4) Esqueleto todo ósseo; coluna vertebral com cinco regiões bem definidas (cervical, torácica, lombar, sacral e caudal);

(5) Coração com quatro câmeras (dois átrios e dois ventrículos); glóbulos vermelhos anucleados, em geral em forma de disco bicôncavo;

(6) Trocas gasosas realizadas no interior de pulmões; o palato secundário separa a passagem do ar da do alimento, permitindo que o animal respire enquanto se alimenta;

(7) Excreção por meio de rins; ureia é o principal produto de excreção de compostos nitrogenados;

(8) Presença de um encéfalo bem desenvolvido, especialmente o neocórtex; memória e capacidade de aprendizagem são bem desenvolvidas; e

(9) Fecundação interna; quase todos vivíparos; desenvolvimento direto; na maioria das espécies, a interface mãe/embrião é mediada por uma placenta; os filhotes, depois que nascem, são alimentados com uma secreção (leite) produzida pela mãe – ver artigo Nós os mamíferos. I. A mama masculina é um penduricalho ou uma adaptação?

2. Os mamíferos viventes.

São conhecidas 5.631 espécies viventes de mamíferos. Essas espécies estão reunidas na classe Mammalia, a qual se subdivide em 29 ordens e 155 famílias.

Esse arranjo, no entanto, é bastante desigual, visto que as diversas ordens e as diversas famílias diferem muito entre si no número de espécies que abrigam.

As cinco maiores ordens (Rodentia, 2.337 espécies; Chiroptera, 1.171; Soricomorpha, 428; Primates, 396; e Artiodactyla, 381), por exemplo, abrigam juntas 4.713 espécies, o que corresponderia a 84% de todas as espécies da classe.

Por sua vez, 11 das demais 24 ordens abrigam entre 1 e 10 espécies, sendo que duas delas (Microbiotheria e Tubulidentata) abrigam uma única espécie. Juntas, estas 11 ordens somam 48 espécies, o que corresponderia a menos de 1% (0,85%) de todas as espécies da classe.

3. As linhagens de mamíferos.

A história evolutiva dos mamíferos é bem documentada, graças principalmente à abundância de dentes fósseis. O registro fóssil tem permitido a reconstrução da história evolutiva do grupo desde os seus ancestrais amniotas até os primeiros mamíferos endotérmicos e cobertos de pelos, passando pelos ancestrais intermediários, ainda ectotérmicos e desprovidos de pelos.

Os primeiros mamíferos surgiram há uns 220-230 milhões de anos, a partir de uma linhagem ancestral de répteis (há muito extintos), os terapsídeos. A ampla irradiação evolutiva do grupo, no entanto, só ocorreria quase 100 milhões de anos mais tarde.

Logo no início de sua história, o ramo que resultaria no surgimento de todos os mamíferos se dividiu em duas linhagens: os prototérios (mamíferos ovíparos) e os térios (vivíparos). Estes últimos, entre 160 e 175 milhões de anos atrás, se subdividiram em duas novas linhagens, a dos marsupiais e a dos mamíferos placentários.

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Nota.

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