Canção de alta noite
Cecília Meireles
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... – enquanto consente
Deus que a noite seja andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar – somente.
Não necessita de nada.
Fonte (estrofe 5): Ferreira, A. B. H. 2009. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, 4ª ed. Curitiba, Positivo. Poema publicado em livro em 1942.
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