22 março 2021

No ritmo atual, o país irá contabilizar 390 mil mortes até 25/4

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia da Covid-19 divulgados na semana passada (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) divulgados em artigo anterior (aqui). Entre 15 e 21/3, as taxas ficaram em 0,63% (casos) e 0,79% (mortes). Foi a quinta escalada seguida na taxa de mortes. Ainda que a um ritmo menos acentuado, a taxa de casos, que havia recuado na semana anterior, tornou a subir. No ritmo atual, o país irá contabilizar 14.940.219 casos e 387.654 mortes até o último domingo de abril (25/4). Mas as coisas podem seguir piorando, o que tornaria as estatísticas ainda mais assombrosas. Se a taxa de mortes seguir a escalar no ritmo que escalou nas últimas quatro semanas (algo como 0,1% por semana, entre 22/2 e 21/3), o total de mortes em 25/4 será ainda mais impressionante: 430.571.

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1. UM BALANÇO DA SITUAÇÃO MUNDIAL.

Levando em conta as estatísticas obtidas no fim da manhã de ontem (21/3) [1], eis um quadro da situação mundial.

(A) Em números absolutos, os 20 países [2] mais afetados seguem a concentrar 79% dos casos (de um total de 122.941.299) e 82% das mortes (de um total de 2.711.650) [3].

(B) Entre esses 20 países, a taxa de letalidade segue em 2,3%. A taxa brasileira está em 2,45%. (Outros três países da América do Sul que estão no topo da lista têm taxas de letalidade equivalentes ou ainda piores: Argentina, 2,43%; Colômbia, 2,7%; e Peru, 3,4%.)

(C) Nesses 20 países, 72,5 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 75% dos casos. Em escala global, 92,3 milhões de indivíduos já receberam alta.

2. O RITMO ATUAL DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (21/3), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 47.774 casos e 1.290 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 11.998.233 casos e 294.042 mortes [4].

Em números absolutos, as estatísticas registradas na semana passada (15-21/3) foram ainda mais assombrosas que as da semana anterior.

Foram registrados 514.863 novos casos – um novo recorde e um salto em relação ao total da semana anterior (464.026, entre 8 e 14/3). Foi a 16ª semana com mais de 300 mil novos casos (11 dessas semanas foram registradas em 2021).

Desgraçadamente, atingimos também um novo patamar no número de mortes: 15.813 – 23% a mais que o recorde anterior (12.818, entre 8 e 14/3). Foi a 18ª semana com mais de 7 mil mortes (10 dessas semanas foram registradas em 2021).

3. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Mês a mês, desde abril de 2020, tenho usado as taxas de crescimento no número de casos e de mortes para monitorar o rumo e o ritmo da pandemia [5]. E a minha escolha tem se revelado bastante acertada.

Vejamos os resultados mais recentes.

Em comparação com as médias da semana anterior (8-14/3), as médias da semana passada (15-21/3) escalaram (ver a figura que acompanha este artigo).

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,59% (8-14/3) para 0,63% (15-21/3) – o maior percentual em nove semanas, embora não muito diferente dos valores obtidos nas duas semanas anteriores, 0,62% (1-7/3) e 0,59% (8-14/3) [6].

A taxa de crescimento no número de mortes saltou de 0,68% (8-14/3) para 0,79% (15-21/3) – o maior percentual nos últimos sete meses [6, 7]!

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6/2020 e 21/3/2021. (Valores acima de 2% não são mostrados.) As médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, razão pela qual o período é referido aqui como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

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4. CODA.

No ritmo atual, o país irá contabilizar um total de 14.940.219 casos e 387.654 mortes até o último domingo de abril (25/4).

Mas as coisas podem seguir piorando, o que tornaria as estatísticas ainda mais assombrosas. Se a taxa de mortes seguir a escalar no ritmo que escalou nas últimas quatro semanas (algo como 0,1% por semana, entre 22/2 e 21/3), nós chegaremos ao último domingo de abril (25/4) com uma média semanal próxima a 1,3%. Nesse cenário, o total de mortes em 25/4 será ainda mais impressionante: 430.571.

Há como reverter essas tendências macabras – basta seguir o exemplo de cidades, estados ou países que venceram ou estão a vencer a pandemia. O recado para governadores, prefeitos e lideranças empresariais de boa-fé cabe em uma frase: A saída para a crise depende da adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento [8].

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale notar que certos países atualizam suas estatísticas uma única vez ao longo do dia; outros atualizam duas vezes ou mais; e há uns poucos que estão a fazê-lo de modo mais ou menos errático. Alguns países europeus (e.g., Suécia, Suíça e Espanha) insistem em não divulgar as estatísticas em feriados e fins de semana. A julgar pelo que informam os painéis, o comportamento da Suécia tem sido particularmente surpreendente e vexatório. Acompanho as estatísticas mundiais em dois painéis, Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA) e Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em cinco grupos: (a) Entre 28 e 30 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 10 e 12 milhões – Brasil e Índia; (c) Entre 4 e 6 milhões – Rússia, Reino Unido e França; (d) Entre 2 e 4 milhões – Itália, Espanha, Turquia, Alemanha, Colômbia, Argentina, México e Polônia; e (e) Entre 1,4 e 2 milhões – Irã, Ucrânia, África do Sul, Tchéquia, Peru e Indonésia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[4] Números horrorosos, mas previsíveis e evitáveis – ver o artigo ‘No ritmo atual, o país irá contabilizar 291 mil mortes até 28/3’, publicado neste GGN, em 1/3.

[5] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março, em escala mundial e nacional, ver os cinco volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[6] Entre 19/10 e 21/3, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1), 0,57% (25-31/1), 0,49%(1-7/2), 0,46% (8-14/2), 0,48% (15-21/2), 0,53% (22-28/2), 0,62% (1-7/3), 0,59% (8-14/3) e 0,63% (15-21/3); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1), 0,48% (25-31/1), 0,44%(1-7/2), 0,47% (8-14/2), 0,43% (15-21/2), 0,48% (22-28/2), 0,58% (1-7/3), 0,68% (8-14/3) e 0,79% (15-21/3).

[7] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos volumes 1-3 citados na nota 3.

[8] É um erro imaginar que a saída para a crise será pavimentada pela campanha de vacinação, mesmo na hipótese de que ela saía do marasmo em que se encontra. Como alertei em artigos anteriores, os efeitos da vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – quando mais da metade dos brasileiros tiver sido vacinada. E tal não ocorrerá antes do segundo semestre. E mais: Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

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