A alienação do trabalho científico
Álvaro Vieira Pinto
A alienação do trabalho científico manifesta-se por três aspectos principais: a) Em primeiro lugar, a perda do controle da destinação dos resultados do trabalho, por parte do cientista. Quer se trate de um novo objeto, uma nova técnica ou uma ideia original, o verdadeiro autor não decide mais do destino que devem ter, das finalidades a que servirão, das consequências a que deverão dar lugar; quem terá essa função serão aqueles grupos sociais que empresaram a pesquisa, que converteram o sábio em máquina pensante, e que se reservam o direito de utilizar para seus próprios fins, ligados fundamentalmente aos seus interesses econômicos e políticos, os bens culturais provenientes do trabalho científico do especialista. [...]
b) A segunda modalidade de alienação específica do trabalho científico é o que chamaríamos de anonimato, o desaparecimento do homem no mecanismo da produção científica. O sábio fica absorvido pelo sistema onde está obrigado a se alojar para produzir. Da mesma maneira que no caso da produção econômica em geral, a complexidade inevitável da organização da produção científica, que implica em imensos estabelecimentos, laboratórios, escritórios burocráticos, instalações fabris gigantescas, em provisão de recursos financeiros que escapam completamente à direção do cientista, que deles é antes o dependente, e ainda a exigência de um sem número de serviços auxiliares, desde as bibliotecas até a colaboração de outros cientistas, técnicos e operários especializados, tudo isso contribui para o surgimento de uma nova espécie de contradição alienadora do trabalho individual do homem de ciência. [...]
c) Mas, ainda por um terceiro aspecto se produz a alienação específica do labor científico: nas sociedades como a nossa, onde reinam antagonismos substanciais, previamente a qualquer realização o cientista tem de concordar com as condições materiais de trabalho, que lhe são impostas.
Fonte: Pinto, A. V. 1979. Ciência e existência, 2ª ed. RJ, Paz e Terra.
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