02 junho 2022

Mais 660 mil casos e 3,3 mil mortes serão contabilizados até 26/6. Podemos lutar contra isso?

Felipe A. P. L. Costa [*].

Conforme escrevi em artigo publicado ontem (31/5) neste Jornal GGN (aqui), as taxas de crescimento (casos e mortes) que estou a monitorar tornaram a subir.

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,0478% (16-22/5) para 0,0752% (23-29/5) – o maior valor em nove semanas. A taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,0152% (16-22/5) para 0,0177% (23-29/5) – o maior valor em quatro semanas.

Nesse ritmo, o país irá contabilizar mais 658.042 casos e 3.314 mortes até o último domingo de junho. No cômputo total, chegaríamos assim a 31.611.621 casos e 669.767 mortes até 26/9.

É preocupante.

O QUE FAZER?

Em primeiro lugar, os governantes deveriam descruzar os braços e agir. Mas a imprensa e cada um de nós podemos também lutar contra a má-fé e a inércia.

Não custa repetir: O início da campanha de vacinação teve um impacto tremendo nas estatísticas e nas métricas. Após um esperado lapso inicial, os números de casos e mortes caíram. E caíram de modo expressivo e consistente.

Ocorre que a vacinação por si só não irá nos tirar do atoleiro em que estamos. Por quê? Há mais de um motivo. Dois deles são os seguintes:

(i) A imunidade conferida pela vacina é temporária. O que significa isto? O sistema imunológico de um recém-vacinado é prontamente induzido a iniciar a produção de anticorpos – leia-se: proteínas de defesa a circular pelo corpo. O ritmo de produção cresce até atingir um determinado valor máximo, a partir do qual o ritmo de produção começa a cair. Mais um pouco e o nível de proteção também começa a cair. Na ausência de infecções, a produção de anticorpos se torna um luxo desnecessário. Assim, por razões de economia orçamentária do nosso corpo, as defesas contra o vírus da Covid-19 (chamado de SARS-CoV-2) são reduzidas a um arsenal mínimo. Essa regra é mais ou menos universal – i.e., vale para outros tipos de vacina, contra outros tipos de doença. O que de fato varia, seja entre indivíduos, seja de acordo com a infecção, é o tamanho do sistema de defesa de que permanece de prontidão. As doses de reforço nada mais são do que estímulos que, periodicamente, despertam ou reorientam um sistema de defesa adormecido ou em frangalhos.

(ii) A campanha de vacinação não é instantânea. Ao contrário, a depender do tamanho da população e do ritmo de vacinação, o intervalo de tempo necessário para concluir uma campanha pode durar muito tempo. O ideal, notadamente em momentos de crise (como o atual), seria concluir a campanha tão rapidamente quanto possível – digamos, em um intervalo inferior ao período de imunidade que é conferido pela vacina (item i). Caso contrário, corremos o risco de cair em um círculo vicioso. Veja: se a proteção conferida por uma vacina dura, digamos, seis meses, mas a campanha leva um ano para ser concluída (i.e., levamos um ano para vacinar, digamos, 80% de toda a população), haverá aí uma janela de seis meses durante a qual indivíduos já vacinados correrão de novo o risco (nada desprezível) se serem infectados e adoecerem. Podemos lutar contra isso? Sim, podemos. Como? Há mais de um jeito. Um deles é trabalhar para que a campanha ganhe força. Mas também podemos baixar as chances de infecção. Como? Ora, mantendo de pé as nossas velhas conhecidas: as medidas de proteção não farmacológicas. Uma delas funciona bem e é quase de graça: o uso compulsório de máscaras faciais, sobretudo em lugares fechados.

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