26 setembro 2023

Mal secreto

Raimundo Correia

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Fonte (estrofes 2 e 4): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1883.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker