Leningrado
Óssip Mandelstam
Eis-me de volta à minha cidade. São estas as minhas velhas lágrimas,
minhas pequenas veias, as glândulas inchadas da infância.
Então estás de volta. Clara amplidão. Aspira
o óleo de peixe das lâmpadas ribeirinhas de Leningrado.
Abre os olhos. Conheces esse dia de dezembro,
gema de ovo com o breu terrível batido em si?
Petersburgo! Não quero morrer ainda!
tens o número de meu telefone.
Petersburgo! Guardo ainda os endereços;
posso consultar a vozes desaparecidas.
Vivo clandestinamente e o sino,
que arranca os nervos e todo o resto, reboa em minhas têmporas.
Espero até amanhã por convidados que amo
e faço retinir as correntes da porta.
Fonte: Berman, M. 1986. Tudo que é sólido desmancha no ar. SP, Companhia das Letras. Poema datado de 1930.
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