Canção da lua que lava
Murilo Araújo
Lua, que lavas teus linhos,
sempre a lavar
numa lixívia de nuvens,
branca, branquinha de espuma,
e escorres tudo lá no alto
para secar;
lua que lavas teus linhos
pelo valados maninhos,
na serra onde vai nevar;
oh lua alagando o mundo
nesta espuma de cegar!
lua que lavas teus linhos
e que os enxáguas
e os pões em qualquer lugar –
nos terraços lajeados,
nos velhos muros caiados,
nos laranjais do pomar
ou nos campos orvalhados
onde estão a gotejar –
lua que lavas teus linhos
até nas praias do mar –
vem, lua, e lava minha alma!
Oh lava minha alma em lágrimas,
para que Deus, sol das almas,
venha a enxugar
Fonte: Horta, A. B. 2007. Criadores de mantras. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1952.
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