27 julho 2023

Oito teses sobre o significado da ciência

Philippe Roqueplo

Tese 1. Saber e poder. – Sejam quais forem as motivações subjetivas dos cientistas, o significado da ciência não deve ser hoje procurado no saber enquanto tal, mas no poder que esse saber confere.

Tese 2. A natureza, problema político. – O poder da ciência tornou-se tal que já não encontra normas exteriores a ela própria: no domínio das Ciências Exatas o conceito de natureza mais não pode significar do que o resíduo duma ciência inacabada.

Tese 3. Ciência e tecnocracia. – O conceito de tecnocracia não significaria o poderio (cratie) de certos homens (os ‘tecnocratas’) se não começasse por significar o poderia da técnica, isto é, da ciência realizada.

Tese 4. Ciência e política. – A influência política da ciência e da técnica é profundamente contraditória: indissociavelmente fator de politização e de despolitização.

Tese 5. As falhas do sistema. – A título de hipótese de trabalho vai-se admitir que o sistema científico-técnico na sua concretização admite quatro falhas fundamentais: a inovação, o ensino, a empresa e, duma maneira a precisar depois, a violência.

Tese 6. Ciência e ideologia. – A racionalidade científica transforma-se em ideologia logo que se impõe como a única forma de racionalidade: trata-se então duma miragem mantida a serviço de opções políticas que essa miragem serve simultaneamente para justificar e dissimular. O dogma da racionalidade científica é uma mistificação.

Tese 7. Ciência e violência. – Independente de qual for o sistema, capitalista ou socialista, um mundo em que a ciência e a técnica desempenhem um papel constitutivo é por ele só gerador de violência e não pode evoluir sem uma certa violência.

Tese 8. Ciência, cultura e política. – A condição para a possibilidade dum poder real, num mundo em que a ciência é ela mesma poder, exige a reunificação cultural apesar da especialização. A própria existência da ciência e da técnica coloca o problema da cultura como um problema político de primeira importância.

Fonte: Deus, J. D., org. 1979. A crítica da ciência, 2ª ed. RJ, Zahar. Extraído de texto originalmente publicado em 1972.

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