16 novembro 2006

Morro velho

Milton Nascimento

No sertão da minha terra,

fazenda é o camarada que ao chão se deu

Fez a obrigação com força,

parece até que tudo aquilo ali é seu

Só poder sentar no morro

e ver tudo verdinho, lindo a crescer

Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada


Filho do branco e do preto,

correndo pela estrada atrás de passarinho

Pela plantação adentro,

crescendo os dois meninos, sempre pequeninos

Peixe bom dá no riacho

de água tão limpinha, dá pro fundo ver

Orgulhoso camarada, contra histórias pra moçada


Filho do Sinhô vai embora,

tempo de estudos na cidade grande

Parte, tem os olhos tristes,

deixando o companheiro na estação distante

“Não esqueça, amigo, eu vou voltar”

Some longe o trenzinho ao deus-dará


Quando volta já é outro,

trouxe até Sinhá Mocinha pra apresentar

Linda como a luz da lua

que em lugar nenhum rebrilha como lá

Já tem nome de doutor,

e agora na fazenda é quem vai mandar

E seu velho camarada já não brinca, mas trabalha


Fonte: álbum Milton Nascimento (1967), de Milton Nascimento.


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