Morro velho
Milton Nascimento
No sertão da minha terra,
fazenda é o camarada que ao chão se deu
Fez a obrigação com força,
parece até que tudo aquilo ali é seu
Só poder sentar no morro
e ver tudo verdinho, lindo a crescer
Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada
Filho do branco e do preto,
correndo pela estrada atrás de passarinho
Pela plantação adentro,
crescendo os dois meninos, sempre pequeninos
Peixe bom dá no riacho
de água tão limpinha, dá pro fundo ver
Orgulhoso camarada, contra histórias pra moçada
Filho do Sinhô vai embora,
tempo de estudos na cidade grande
Parte, tem os olhos tristes,
deixando o companheiro na estação distante
“Não esqueça, amigo, eu vou voltar”
Some longe o trenzinho ao deus-dará
Quando volta já é outro,
trouxe até Sinhá Mocinha pra apresentar
Linda como a luz da lua
que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor,
e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada já não brinca, mas trabalha
Fonte: álbum Milton Nascimento (1967), de Milton Nascimento.
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