Canto gregoriano
Uwe Kraemer
O canto gregoriano (cantochão), isto é, o canto sacro monódico e em latim da Igreja Católica Romana, deve o seu nome ao Papa Gregório, o Grande que, por volta do ano 600, fez recolher e classificar os cantos das festas litúrgicas romanas. No século 9, esse repertório foi propagado, ao que tudo indica a partir do território franco, sob a autoridade do Estado e através das numerosas escolas, ligadas seja a mosteiros ou a catedrais. Essa música é dita “coral” porque ela se dava no coro da igreja, perto do altar, que é o centro cultual. O termo não indica, portanto, que ela fosse executada pelo conjunto dos fiéis. O repertório das peças gregorianas atualmente em uso esta fixado pelo Graduale Romanum de 1974. Ele lista inicialmente os cantos variáveis, ligados a uma festa ou a um santo particular – é o “Próprio” (Proprium) – e que diferem, tanto pelo texto como pela música, dos cantos regulares e imutáveis do “ordinário” da missa (Kyrie, Gloria, Sanctus, Agnus Dei).
A melodia gregoria não obedece ao nosso sistema tonal maior/menor, mas ao dos “tons” ou “modos” eclesiásticos, escalas diferenciadas entre si pela colocação dos semitons, e às quais eram por isso atribuídos efeitos morais diversos, tanto sobre o executante como sobre o ouvinte. Na melodia tonal as notas importantes são a última (finalis), a do recitativo (tuba ou repercussa), e a tenor (nota sustentada), situada na quinta superior do finalis, e em torno da qual a melodia evolui. Finalis e tenor desempenham um papel decisivo na determinação dos oito modos e seu caráter expressivo (dórico, hipodórico, frígio, hipofrígio, lídio, hipolídio, mixolidiano, hipomixolidiano). Assim, o sétimo tom (mixolidiano) passa por solene e radiante; o sexto (hipolidiano) por caloroso e introspectivo. Apesar da diversidade e da riqueza dos cantos gregorianos, pode-se neles identificar certos princípios gerais de construção: o “parallelismus membrorum” e a forma em curva ascendente e descendente. O primeiro é explicado por uma particularidade de estrutra dos Salmos, sejam eles de prece ou de meditação: em textos “paralelos”, cada uma das duas metades de um versículo ilumina e equilibra a outra, exprimindo uma idéia similar em palavras diferentes ou idéias diferentes em palavras similares (“Sanctus, sanctus, sanctus, Dominus, Deus Sabaoth”). Esse paralelismo do texto engendra uma divisão de curva musical em duas partes (ou mais). Nos textos mais longos ou nas melodias mais ornamentadas, é necessário introduzir-se um ponto de descanso (flexa) no meio de cada arco.
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Fonte: capa do álbum Canto gregoriano (1987), do Coral da Schola da Hofburgkapelle de Viena.
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