20.000 léguas matemáticas
A. K. Dewdney
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Da janela da sala de embarque posso ver nosso próximo avião. Com toda a reluzente beleza exigida pelos vôos supersônicos, ele é um símbolo da tecnologia no final do século 20. Essa tecnologia, relembro a mim mesmo, depende quase inteiramente da ciência, e a ciência – em especial a ciência física – depende quase inteiramente da matemática. É como se eu fosse voar para Atenas pelo simples poder da matemática. As pás das turbinas girarão em círculos, a força de retropulsão da descarga a jato produzirá um impulso igual e contrário para frente, os componente da estrutura metálica resistirão à tensão proporcionalmente a seus cortes transversos e o fino ar da estratosfera deslizará sobre asas matematicamente otimizadas para promover a elevação, igualando exatamente a gravidade.
Em parte, lembro a mim mesmo, é disso que se trata nesta viagem: do poder da matemática, de sua espantosa aplicabilidade na ciência e na tecnologia. O vôo vindouro é apenas o primeiro passo numa longa viagem. Tenho compromissos marcados na Turquia, na Jordânia, na Itália e na Inglaterra, para me encontrar com diversos pensadores, alguns eminentes, alguns desconhecidos. Espero que eles lançem um pouco de luz sobre a questão que estou examinando: qual é a verdadeira natureza da matemática.
Trata-se de uma questão desoladoramente vaga, é claro, mas pensei em duas perguntas mais explicitamente focalizadas, as quais, se respondidas, muito contribuirão para resolver a primeira:
1. Por que a matemática é tão incrivelmente útil nas ciências naturais?
2. A matemática é descoberta ou é criada?
Não consigo escapar à sensação de que essas duas perguntas estão relacionadas, talvez muito de perto. O modo exato como se relacionam, entretanto, não sei dizer. Responder a essas duas perguntas e, com um pouco de sorte, compreender de que modo elas se relacionam constituem o objetivo de minha busca.
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Dewdney, A. K. 2000. 20.000 léguas matemáticas. RJ, Jorge Zahar.
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