02 janeiro 2007

Autopsicografia

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fonte: Pessoa, F. 1980. O Eu profundo e outros Eus, 21a edição. RJ, Nova Fronteira.

1 Comentários:

Blogger LuccyInTheSky disse...

Eu amo este poema... Coloquei no meu blog do vox tb!

3/1/07 01:58  

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