As causas da guerra
Ashley Montagu
As guerras modernas não são feitas por nações ou povos, nem por homens num estado de agressividade possuídos por um instinto territorial. As guerras geralmente são criadas por alguns indivíduos em posições de grande poder, “grandes líderes”, estadistas “sérios” e “respeitados”, geralmente assessorados pelos “melhores e mais brilhantes”, quase sempre com calma e deliberação, e com a pretensão ou mesmo a convicção de completa retidão moral. Os generais, longe das frentes de batalha, emitem ordens para a aniquilação do “inimigo” sem mais agressividade ou emoção do que ordenam ao jardineiro de suas casas que apare um pouco mais a grama. O “combatente” atira ou deixa cair suas bombas sobre um “inimigo” que dificilmente chega a ver, em relação ao qual sua desvinculação emocional dificilmente poderia ser maior. Ele está engajado em “hostilidades” em que não existe inimizade emocional, e em comportamentos “agressivos” em que não existe qualquer sentimento de agressividade. Seu comportamento é dirigido pelo Estado, e não pelo instinto, contra o inimigo. (...) Os inimigos são designados e os súditos são chamados para demonstrar sua lealdade. (...)
O biólogo francês Jean Rostand afirmou: “Na guerra, o homem é muito mais uma ovelha que um lobo. Ele segue, obedece. Guerra é servilismo, mais precisamente um certo fanatismo e credulidade, mas não agressividade”.
Bernard Brodie, (...), assinalou que a guerra é uma vazão muito pobre para a raiva ou a agressividade humana. É demasiado perigosa e custosa, e o inimigo é demasiado impessoal e remoto. A agressividade e a raiva são extravasadas imediatamente de maneira mais adequada sobre pessoas próximas, visíveis e tangíveis. (...) A agressividade busca um alívio imediato contra determinado alvo. As máquinas de guerra tornam débil ou deficiente qualquer agressividade que pudesse estar presente. A verdade é que, em termos de motivação, e este é talvez o maior de todos os paradoxos, a guerra representa uma das formas menos agressivas de comportamento humano. Um Estado não é uma criação natural, e sim uma entidade artificial, e é como entidade artificial que o Estado empreende a guerra, com armas artificiais, a partir de motivos artificiais, com objetivos artificiais, e conduzida com finalidades artificiais.
(...)
Fonte: Montagu, A. 1978. A natureza da agressividade humana. RJ, Zahar.
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hjy
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