24 abril 2007

O mensageiro sideral

Jacob Bronowski

Em um sentido moderno, a primeira ciência a aflorar da civilização mediterrânea foi a astronomia. Podemos ir da matemática para a astronomia quase que diretamente porque, afinal de contas, a astronomia se desenvolveu primeiro, e tornou-se modelo para as outras ciências, justamente por ter sido possível expressá-la através de números exatos. (...)

Rudimentos de astronomia existem em todas as culturas, de forma que podemos inferir fazerem parte das preocupações de todos os povos primitivos do mundo. Uma das razões se mostra claramente. A astronomia é um conhecimento importante para nos guiar através dos ciclos das estações – por exemplo, pelo movimento aparente do sol. Dessa maneira, o homem pode fixar uma época de plantio, de colheita, de rodízio do rebanho, e assim por diante. Portanto, todas as culturas sedentárias acabaram por desenvolver um calendário para orientar seus planos. Tal aconteceu no Novo Mundo, da mesma forma que nas bacias fluviais da Babilônia e do Egito.

Podemos tomar a civilização maia como exemplo. Considerada a mais avançada das culturas americanas, floresceu, antes do ano 1.000 d.C., no istmo da América Central, entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Os maias possuíam uma linguagem escrita, conhecimentos de engenharia e artes originais. Seus templos, construídos em forma de pirâmides íngremes, abrigavam alguns astrônomos; de um grupo deles nos ficaram os retratos gravados em um amplo altar de pedra. O altar foi erigido em comemoração a um antigo congresso astronômico que teve lugar no ano 776. Dezesseis matemáticos aqui se reuniram, nesse famoso centro da cultura maia, a cidade sagrada de Copan, na América Central.
(...)

Mas a astronomia não se esgota com o calendário. Um outro uso, embora não universal, pode ser identificado entre os povos primitivos. Os movimentos dos astros no céu noturno também podem servir de guia ao viajante, principalmente ao viajante marítimo, que não pode contar com outo tipo de ponto de referência. (...)

Fonte: Bronowski, J. 1979. A escalada do homem. SP & Brasília, Martins Fotes & Editora da UnB.

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