09 julho 2007

Procurando Vermeer

Blue Balliett

4.
Na manhã seguinte, a srta. Hussey tinha um brilho extra.

Ela concordou que a visita ao museu não tinha exatamente funcionado. Encontraram três rolos de pergaminho religiosos e a carta com o selo vermelho, nada mais. A srta. Hussey disse que tinha gostado da procura. Não parecia nada aborrecida.

– Querem saber, um dos meus pintores favoritos interessava-se por cartas e deu-lhes importantes destaques em muitos dos seus quadros. Talvez por isso pensei que veríamos mais do que vimos. É engraçado como podemos projetar as coisas.

Ela mudou de assunto, e disse com voz de repente muito séria:

– E então? Vocês chegaram a alguma conclusão sobre comunicação?

Petra levantou a mão.

– Talvez isso seja difícil de estudar. Que tal trabalharmos em alguma coisa ligada à arte? – Ela tinha gostado de explorar o Instituto de Arte. Tinha certeza de que encontrariam outro assunto que valesse a pena investigar.

Denise disse:

– Achei algumas obras de arte grosseiras. Quero dizer, grande parte era sangrenta e violenta ou gente gorda e nua, ou simplesmente antiguidades tediosas, só gente bem-vestida. Quero dizer, ninguém poderia me fazer viver com alguns daqueles quadros.

Houve um murmúrio de aprovação. Denise fungou feliz.

– Duvido que você algum dia tenha de viver com um deles, Denise – comentou a srta. Hussey, cruzando os braços. Então ficou imóvel e olhou para o teto. Vendo que ela não se movia, todos ficaram quietos.

– Querem saber – pronunciou-se a srta. Hussey afinal –, Picasso disse que a arte é uma mentira, mas uma mentira que diz a verdade. – Começou a andar de um lado para outro. – Mentiras e arte... um problema antigo. Assim, se trabalharmos com a arte – disse devagar –, teremos de descobrir outra coisa primeiro: o que faz de um objeto uma obra de arte?

Denise revirou os olhos, mas permaneceu quieta.

– Quero que vocês façam o seguinte: comecem escolhendo um item em casa que vocês acham que é uma obra de arte. Pode ser qualquer coisa. Não peçam conselho a ninguém. Tem de ser sua opinião. Descrevam o objeto para nós, sem dizer o que é. E dessa vez não vou deixar que escapem do anzol. – Sorriu. – Vamos ler algumas das suas idéias em voz alta.
[...]

Fonte: Balliett, B. 2004. Procurando Vermeer. RJ, Rocco.

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