Plebiscito
Artur Azevedo
A cena passa-se em 1890.
A família está toda reunida na sala de jantar.
O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade.
Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.
Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.
Silêncio.
De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
– Papai, que é plebiscito?
O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.
O pequeno insiste:
– Papai?
Pausa:
– Papai?
Dona Bernardina intervém:
– Ó senhor Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal.
O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.
– Que é? Que desejam vocês?
– Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
– Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?
[...]
Fonte: Machado, A. M., org. 2002. Em família. RJ, Nova Fronteira. Conto originalmente publicado em 1894.
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