21 novembro 2007

A Gata Borralheira

Jacob Grimm & Wilhelm Grimm

A mulher de um ricaço adoeceu e, quando sentiu que seu fim se aproximava, chamou a única filha do casal ao seu quarto e disse:

– Filha, querida, continua a ser devota e boa, assim Deus sempre a ajudará, e lá do céu eu olharei por você e a protegerei.

Dizendo isso, a mulher fechou os olhos e deu o último suspiro.

A menina continuou sendo devota e boa, e todo dia ia ao túmulo da mãe e chorava. Quando chegou o inverno, a neve cobriu o túmulo com um manto branco, e quando o sol de primavera tornou a descobri-lo, o homem se casou outra vez. A nova mulher trouxe suas duas filhas, que eram agradáveis e bonitas por fora, mas malvadas e feias por dentro.

Assim começou um período de tristezas para a infeliz enteada.

– Essa pateta vai se sentar conosco na sala? – perguntavam elas.

– Quem quer comer o pão tem de trabalhar para ganhá-lo; vai se sentar com a ajudante de cozinha.

Confiscaram-lhe suas roupas bonitas, a fizeram vestir uma roupa cinzenta e lhe deram tamancos de madeira para calçar.

– Olhem só como a orgulhosa princesa está bem vestida – caçoaram ao levá-la para a cozinha! Ali a menina foi obrigada a fazer trabalhos pesados de manhã à noite; a se levantar com o nascer do sol, a carregar água, acender o fogão, cozinhar e lavar. Não satisfeitas, as irmãs lhe infligiam todos os vexames em que conseguiam pensar; zombavam dela e atiravam ervilhas e lentilhas no borralho para obrigá-la a se sentar para catá-las. À noite, quando ela estava exausta de tanto trabalhar, não tinha cama a que se recolher e ia se deitar no fogão sobre as cinzas. Por isso parecia sempre empoeirada e suja e a chamavam Borralheira.
[...]

Fonte: Estés, C. P., org. 2005. Contos dos irmãos Grimm. RJ, Rocco.

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