A bolsa amarela
Lygia Bojunga
1.
Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades. Não digo vontade magra, pequenininha, que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um sapato novo que eu não agüento mais o meu. Vontade assim todo mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras – as três que de repente vão crescendo e engordando toda vida – ah, essas eu não quero mais mostrar. De jeito nenhum.
Nem sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho que é a vontade de crescer e deixar de ser criança. Outra hora acho que é a vontade de ter nascido garoto em vez de menina. Mas hoje to achando que é a vontade de escrever.
[...]
Fonte: Bonjunga, L. 2005 [1976]. A bolsa amarela, 33ª edição. RJ, Casa Lygia Bojunga.
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