Onde está o bom samaritano?
Hans Eysenck & Michael Eysenck
Uma das imagens mais comuns dos tempos modernos é a de uma pessoa sendo atacada e gritando por socorro no centro de uma cidade grande e impessoal, sem que seus gritos sejam ouvidos e sem que os transeuntes façam qualquer coisa além de continuar cuidando da própria vida. Esta apatia aparente tem sido citada como uma evidência das atitudes desumanizadoras e egoístas que as cidades modernas produzem na maioria dos seus habitantes.
Alguns incidentes ocorridos na vida real parecem confirmar esse quadro sombrio. Um exemplo famoso foi o caso de Kitty Genovese, esfaqueada até morrer na área de Queens, em Nova York, quando voltava do trabalho às três horas da manha. Isto, apesar das 38 testemunhas que não só viram, mas assistiram ao crime das janelas dos seus apartamentos, sem que nenhuma delas tentasse interferir. Apenas uma pessoa tomou a atitude relativamente comedida de chamar a polícia; e mesmo assim depois de ter procurado a orientação de um amigo em outra área da cidade.
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John Darley e Bibb Latané ficaram intrigados com o caso de Kitty Genovese e apresentaram uma razão bastante inventiva para a aparente apatia dos espectadores. Eles mostraram que embora seja sensato supor que quanto maior for o número de pessoas a testemunhar um incidente, maior será a probabilidade da vítima receber assistência, no caso de Kitty Genovese ficou demonstrado, de maneira chocante, que isto não é verdade. Com tantas testemunhas do assassinato, alguém não deveria ter ido ao encontro da jovem?
Darley e Latané argumentam que, por mais paradoxal que isto possa parecer, uma vítima pode estar numa situação muito melhor se houver um único espectador do que vários, pois a responsabilidade de socorrer a vítima recai mais sobre os ombros de uma pessoa do que de muitas. Em outras palavras, quando existem muitas testemunhas de um crime ou de uma emergência, ocorre uma difusão de responsabilidade. Além disso, qualquer culpa potencial por ter deixado de ajudar é distribuída por muitas pessoas, não recaindo sobre uma única testemunha.
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Fonte: Eysenck, H. & Eysenck, M. s/d [1981] Comportamento. SP, Círculo do Livro.
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