Os vivos e a morte
Jean Ziegler
1.
Uma estranha dialética orienta as relações entre o sofrimento vivido pelos homens e a imagem da morte que constitui a sua recusa e resposta. Tanto mais intenso, desesperador e irremediável é o sofrimento, mais rico, cheio de nuanças e sutil é o sistema simbólico que o anula.
Em região alguma do Brasil encontrei situação econômica e estruturas sociais mais destruidoras do que no Maranhão. Contudo, em nenhuma outra parte a morte certa, liberadora, goza por parte dos vivos de atenção mais intensa. E em parte alguma também tantas forças criativas, imagens de sonho, são cotidianamente investidas na sua possível abolição.
Num continente onde as guerras, as repressões, a revolta e a fome abalaram profundamente as sociedades e as consciências, as cidades de São Luís, de Alcântara e de Timão constituem uma espécie de ilhota de arcaísmo. Nessas terras vazias, estruturas feudais aparentemente imutáveis conservam homens e coisas num estado de ruína assustador.
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Fonte: Ziegler, J. 1977 [1975]. Os vivos e a morte. RJ, Zahar.
1 Comentários:
gostei muito do que li aki, voltarei mais vezes
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