31 julho 2008

O ferrão na cauda do pavão

Helena Cronin

Houve um tempo em que o olho, em sua aparente perfeição, dava arrepios de frio a Darwin. A cauda do pavão representou uma ameaça ainda maior à sua paz de espírito. “O espetáculo da plumagem da cauda do pavão, cada vez que eu a fito, me faz ficar doente!” [Charles Darwin] [...] Para um darwinista, essa esplêndida cauda possui um ferrão. O olho é, ao menos, altamente vantajoso; ninguém questionaria se ele é benéfico. Mas a cauda do pavão é uma extravagância – vistosa, estranha, exagerada, ornamental, aparentemente sem utilidade terrestre e na verdade prejudicial ao seu sobrecarregado portador. E pior, “caudas de pavão” existem em abundância em todo o reino animal. Em várias espécies, particularmente [aves] e insetos, as fêmeas são econômica e sensatamente vestidas, obedecendo aos preceitos darwinistas, ao passo que os machos desconsideram flagrantemente as regras, insultando a seleção natural, exibindo cores pomposas, ornamentação barroca ou canto elaborado e rotinas de dança. A pavoa poderia ter sido planejada por um engenheiro de senso prático e econômico quanto aos custos; seu parceiro poderia ter saído do cenário de um musical de Hollywood.
[...]

Fonte: Cronin, H. 1995. A formiga e o pavão. Campinas, Papirus.

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