A origem das espécies
Charles Darwin
4.
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Muitos escritores têm compreendido mal, ou criticado mal, a expressão seleção natural. Alguns têm mesmo pensado que a seleção natural traz a variabilidade, visto que abrange somente a conservação das variações por acaso produzidas, quando são vantajosas ao indivíduo nas condições de vida em que se encontra. Ninguém protesta contra os agricultores, quando falam dos poderosos efeitos da seleção realizada pelo homem; ora, neste caso é indispensável que a natureza produza, a princípio, diferenças individuais que o homem escolhe para um determinado fim. Outros pretenderam que o termo seleção envolva uma escolha consciente por parte dos animais que se modificam, e inferiu-se mesmo que, não desfrutando as plantas de qualquer vontade, a seleção natural não se lhes aplica. No sentido literal da palavra, não há dúvida de que a expressão seleção natural seja expressão errada; todavia, quem tem criticado os químicos, quando [eles] se servem do termo afinidade eletiva falando dos diferentes elementos? Contudo, não se pode dizer, estritamente falando, que o ácido escolhesse a liga com a qual de preferência se combina. Diz-se que falo da seleção natural assim como de uma potência ativa ou divina; mas quem critica um autor quando este fala de atração ou gravitação regulando o movimento dos planetas? Todos sabem o que [significam], o que exprimem, estas expressões metafóricas necessárias à clareza da discussão. É difícil evitar personificar o termo natureza; por natureza entendo somente a ação combinada e os resultados complexos de um grande número de leis naturais; e, por leis, a série de acontecimentos que temos aceito. No fim de algum tempo ser-nos-ão familiares estes termos e deixaremos de lado estas críticas inúteis.
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Fonte: Darwin, C. 1979 [1859]. A origem das espécies. SP, Hemus.
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