14 outubro 2008

A uns certos poetas

Múcio Teixeira

Ó tísicos Romeus! ó corações doentes.
Que ficais, ao luar, cismando horas inteiras;
Ó magros menestréis, tristes como os poentes
E estéreis como o seio anêmico das freiras!...

Profetas ideais, fantásticos videntes,
Que andais pelos bordéis, dormindo nas cadeiras...
Por que tanto chorais? – sofreis de dor de dentes?
Deixaram-vos sem roupa as vossas lavadeiras?

Aves do madrigal, canários sem gaiola,
Que andais, como um mendigo, a suplicar a esmola
De um bravo à insipidez dalgum recitativo...

Atirai para um canto as vossas elegias;
Deixai de plagiar o morto Jeremias;
Imitai Baudelaire, que mesmo morto é vivo.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em livro em 1880.

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