Soneto de Arvers
Bastos Tigre
Guardo um segredo n’alma e um mistério na vida,
Imorredouro amor que irrompeu de momento.
Se o mal é sem remédio, a queixa é descabida
E a que me fez o mal, nunca ouviu meu lamento.
Por ela já passei – sombra despercebida,
E ao meu lado a sentir, no meu isolamento!
Ao termo chegarei dessa terrena lida,
E não ouso pedir, e receber não tento.
Quanto a ela, apesar da doçura e carinho
Com que Deus a dotou, seguirá seu caminho,
Sem ouvir que a acompanha um murmúrio de amor...
E, fiel ao seu dever que austeramente zela,
Ela dirá, lendo os meus versos plenos dela:
– “O soneto de Arvers tem mais um tradutor!”
Fonte: Martins, W. 1979. História da inteligência brasileira, vol. 7. SP, Cultrix & Edusp. Versão publicada em 1921; o poema original de Félix Arvers foi publicado em 1833.
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