10 novembro 2008

O dilema de Cantor

Carl Djerassi

16.
Durante vinte e cinco minutos, 11 de outubro foi o melhor dia da vida de Cantor. Pouco depois das seis da manhã, enquanto tomava banho, o telefone tocou. A persistência de quem telefonava finalmente o levou a sair do banho e ir pingando até o telefone ao lado de sua cama.

“Professor Isidore Cantor?” A voz com sotaque era desconhecida; além disso, ninguém o chamava de Isidore há décadas.

Apesar da excitação que crescia em seu peito, ele decidiu ser neutro. “Quem está falando?”

“Ulf Lundholm, do Svenska Dagblader de Estocolmo.”

“Sim?” Cantor mal podia emitir uma palavra, repleto que estava de suspense, desejo, triunfo e alguma dissimulação. Queria fingir neutralidade fria, mas seu coração disparava. Ele se viu pensando, com a parte de sua mente que continua a viver sua existência normal mesmo quando o resto dele perdia a calma, por que o primeiro telefonema invariavelmente vinha de um repórter. “Sim”, ele acrescentou com mais vigor, “é o professor Isidore Cantor.” Isidore Cantor? Meu Deus, soa como um completo estranho! “Em que posso ajudá-lo?”
[...]

Fonte: Djerassi, C. 1999. O dilema de Cantor. RJ, Nova Fronteira.

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