História natural dos ricos
Richard Conniff
1.
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Em A teoria da classe ociosa, Thorstein Veblen [...] descreveu o comportamento dos ricos basicamente em termos do consumo ostensivo. No entanto, sob muitos aspectos, o consumo não ostensivo é mais intrigante. Quase todos os pavões, por exemplo, têm uma plumagem extravagantemente ostensiva na cauda, a qual mantêm ereta e agitam para atrair a atenção amorosa das fêmeas. Estas não são nada indiferentes às questões do tamanho e do vigor; tais qualidades, assim como a fortuna para os ricos, são o preço do ingresso. Além disso, as fêmeas prestam rigorosa atenção a alguns detalhes inconspícuos, como o brilho e a simetria das penas. Quando um macho perde apenas cinco das cerca de 150 penas de sua cauda, as fêmeas mais exigentes tendem a evitar seu campo de dança.
Entre os ricos, do mesmo modo, os sinais inconspícuos são uma espécie de linguagem particular, de nuanças extremamente delicadas na subespécie. Uma mulher que faça parte do clube, por exemplo, pode usar o que parece ser uma blusa marrom comum. Somente seus pares serão capazes de reconhecê-lo como uma peça de seda da grife Yves St. Laurent, mais cara, digamos, do que uma capa de chuva Chanel. Similarmente, em sua casa na Itália, Sirio Maccioni, dono do elegante restaurante Le Cirque, em Nova York, dirige um despretensioso Lancia. Mas os membros do clube sabem, pelo ronronar gutural do motor, que na verdade há uma Ferrari sob a carroceria. A família Agnelli, cuja empresa fabrica os Lancias e as Ferraris, começou a produzir essa Ferrari disfarçada na década de 1980, quando a política de esquerda tornou imprudente exibir a riqueza de maneira muito explícita.
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Fonte: Conniff, R. 2004. História natural dos ricos. RJ, Jorge Zahar.
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