Para um poema a Florbela
Manuel da Fonseca
Senhora numa cidade,
a cidade abandonou...
– porque lá ninguém a queria...
Jogou-se às estradas da vida,
caminhos do Alentejo,
esbanjando braçados cheios
da grande vida que tinha!
E os campaniços leais
que bem a compreendiam!
Raparigas de olhos pretos
o modo como a olhavam!
Maiorais de largo gado
ínvios atalhos desciam
até as estradas reais.
Moinhos presos nos cerros,
velas pelo céu giravam;
nos longes do descampado
ardem queimadas vermelhas!...
E Florbela, de negro,
esguia como quem era,
seus longos braços abria
esbanjando braçados cheios
da grande vida que tinha!
Fonte: Espanca, F. 1996. Poemas de Florbela Espanca. SP, Martins Fontes. Poema originalmente publicado em 1941.
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