O abismo
Charles Baudelaire
Pascal tinha com ele um abismo em movimento
– Com ele, tudo é abismo – ação, palavra, zelo,
Querer! Pela extensão do eriçado cabelo
Do Medo muitas vezes sinto passar o vento.
No alto, em baixo, por tudo, o precipício, o apelo
Do silêncio e o horror do imenso firmamento,
E as unhas deste Deus todo discernimento
Desenha um multiforme e eterno pesadelo.
Tenho medo do sono e medo da caverna,
Que não sabe ninguém por que mundos se interna;
Da janela eu só vejo o infinito a crescer,
E a minha alma que sempre a vertigem invade,
Só inveja no Nada a insensibilidade.
– Ah! não sair jamais do Número e do Ser!
Fonte: Baudelaire, C. 2006. As flores do mal. SP, Martin Claret. Poema publicado na edição póstuma de 1868.
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